Saúde

Diagnóstico de endometriose leva, em média, sete anos para ser identificada

19 mar 2023 - 07:10

Redação Em Dia ES

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Cólica menstrual muito forte com piora progressiva pode ser um sintoma
Diagnóstico de endometriose leva, em média, sete anos para ser identificada. Foto: Base Científica

O mês de março é dedicado à conscientização sobre os problemas de saúde feminina. A endometriose, que acomete cerca de 10% das mulheres brasileiras na idade reprodutiva, é um deles. Ainda que tenha uma alta prevalência, o diagnóstico costuma demorar para ser definido e iniciar uma orientação terapêutica. Em média, leva-se sete anos para descobrir a doença.

O distúrbio se caracteriza pela implantação do endométrio, tecido glandular que reveste a cavidade do útero, fora dele. Este tecido é mensalmente estimulado pelos hormônios e, quando não ocorre gravidez, ele descama em forma de menstruação. Estes implantes também sofrem estímulo hormonal durante o ciclo menstrual e acabam tendo discreto sangramento local, provocando reação inflamatória, causando o sintoma mais frequente da endometriose, a dor.

“Existem várias teorias sobre o que causa a endometriose, mas a mais comum e aceita pela medicina é a menstruação retrógrada, ou seja, toda mulher, além de ter o sangue escoado pela vagina, também tem a presença deste sangue retornando pelas tubas uterinas e alojando-se na cavidade abdominal, podendo ocasionar o implante dessas células em qualquer região da pelve”, explica Dr. Claudio Bonduki, ginecologista do Hcor.

Segundo o médico, a maioria dos casos de endometriose possui um diagnóstico tardio, por causa da pouca atenção às cólicas menstruais.

“O principal sintoma do distúrbio é uma dor menstrual que aumenta progressivamente na região da pelve e/ou lombar. Na grande maioria das vezes, a própria paciente acaba não percebendo que a intensidade da dor está ficando mais forte, com necessidade de cada vez mais analgésicos e, por vezes, limitando as suas atividades habituais”, alerta o médico.

Além da cólica menstrual, outros sintomas também devem ser observados, como dores durante a relação sexual e, eventualmente, a apresentação de sintomas urinários ou intestinais durante a menstruação, que podem estar ligados à infertilidade. Geralmente, o distúrbio tem início na adolescência, mas por causa do diagnóstico tardio, a incidência maior é entre 25 e 35 anos.

“As regiões mais afetadas pela endometriose são o peritônio (membrana que recobre as paredes do abdômen), os ligamentos uterinos, os ovários e tubas uterinas e, menos frequentemente, a bexiga e o intestino. O diagnóstico é feito por um tripé de avaliações: análise clínica, exame ginecológico e, por fim, exames de imagem (ultrassonografia e ressonância magnética). Só assim podemos ter uma conclusão mais precisa da doença”, relata.

É importante ressaltar ainda que os principais tratamentos têm como objetivo o alívio da dor, evitar as sequelas da doença, especialmente a infertilidade, e a prevenção da reincidência da doença após o tratamento.

“A escolha da terapia tem que ser bem individualizada, sempre analisando os dados clínicos, os exames ginecológicos e de imagem. A endometriose leve pode ser tratada com a administração de progesterona ou pílulas contraceptivas combinadas cíclicas ou contínuas”, afirma Dr. Claudio.

Em casos de indicação cirúrgica, a orientação é realizar a videolaparoscopia ou cirurgia robótica, preservando útero e ovários, principalmente para as mulheres que ainda desejam engravidar. Essa opção remove todos os tecidos comprometidos pela doença e restabelece a anatomia e função dos órgãos pélvicos, garantindo maior qualidade de vida e preservando a fertilidade da mulher.

“Quando a endometriose é moderada ou severa, causando a infertilidade, conduta mais adequada é a cirurgia minimamente invasiva, com o intuito de realizar o diagnóstico definitivo, avaliar a extensão e o comprometimento dos órgãos e efetuar o tratamento cirúrgico”, finaliza.

A endometriose pode ser classificada em três categorias principais, baseada no lugar que se encontra, o grau das lesões e comprometimento dos demais órgãos.

Endometriose superficial – apresenta lesões pequenas, com várias cores e aspectos (pretas, brancas, vermelhas) e que possuem, em geral, entre 1 mm e 3 mm. Geralmente os focos da doença estão implantados principalmente no peritônio. Eles localizam-se em sua maior parte na região pélvica, próxima ao útero e raramente atingem intestino, bexiga ou ureter.

Os focos de endometriose superficial não provocam alterações anatômicas no ovário, tubas e útero. Podemos classificá-la como uma forma menos agressiva, por não atingir os órgãos pélvicos. Porém, ainda assim, se faz necessário o acompanhamento constante da evolução da doença uma vez que um quadro de endometriose superficial pode evoluir para as outras formas.

Endometriose ovariana – caracteriza-se pela presença de cistos de ovário preenchidos por típico líquido “achocolatado”: os endometriomas ovarianos. Os endometriomas podem se romper ou mesmo deixar o líquido do seu interior vazar, causando uma dor abdominal súbita e intensa nas portadoras.

Porém, nem sempre a doença é sintomática. Os endometriomas podem apresentar tamanhos distintos, dependendo da gravidade da doença, variando de um diâmetro de 0,5 cm ou, em casos mais raros, podem alcançar dimensões superiores a 10 cm.

A origem dos endometriomas ovarianos ainda não está perfeitamente esclarecida. Segundo estudos mais recentes, resultam da invasão de cistos ovarianos normais por células do endométrio, que caem na cavidade pélvica no mesmo mecanismo de menstruação retrógrada.

Endometriose profunda – apresenta lesões de pelo menos 5 mm de profundidade e são as mais importantes por se relacionarem com os sintomas mais profusos.

Podem se localizar no:
– Peritônio: camada que reveste internamente o abdome;
Região retrocervical: o local mais comum onde a endometriose pode se instalar;
– Vagina: o canal da vagina é dividido em três partes, inferior (próximo da entrada da vagina), média e superior (próximo do colo uterino). As lesões de endometriose podem surgir no terço superior da vagina, atrás do colo uterino;
– Septo reto-vaginal: é um tecido ou espaço entre reto e vagina no terço médio e inferior onde podem ocorrer lesões de endometriose. Não é um local comum para a presença das lesões da doença;
– Intestino: a parte do intestino mais frequentemente acometida pelas lesões de endometriose é o reto-sigmóide, a porção final do intestino grosso e fica em contato próximo ao útero. Porém, o ceco (parte inicial do intestino grosso), o apêndice e o íleo terminal (parte final do intestino delgado) também podem apresentar a doença;
– Bexiga e ureteres: as lesões de endometriose podem infiltrar a parede da bexiga, assim como os ureteres (canais que levam a urina dos rins à bexiga).

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