Um cérebro artificial está em construção na Ufes, com sinapses digitais. Um carro voador também. A coisa é séria. O Instituto de Inteligência Computacional Aplicada – I²CA, patrocinado pela Fapes e pela ArcelorMittal, e comandado pelo Professor Emérito da Ufes Alberto Ferreira de Souza, tem como missão “desenvolver pesquisa de ponta na área de inteligência computacional aplicada na indústria, com foco em veículos e outros sistemas autônomos inteligentes, formando pessoal especializado e fortalecendo o ecossistema de empresas que empregam e desenvolvem Inteligência Artificial”. E não fica na teoria. A ideia é usar tecnologias avançadas, como redes neurais profundas (Deep Learning), para reproduzir o modelo de autonomia que nós humanos dispomos de, comandados automaticamente pelo cérebro, nos locomovermos com segurança, percebendo obstáculos, reagindo e tomando direções.
Em 2017, o Projeto IARA atingiu um marco na história dos carros autônomos ao realizar uma viagem do campus da UFES em Vitória até a cidade de Guarapari, um percurso de 74 km passando por três municípios em tráfego normal de ruas, avenidas, rodovias, pontes, praças de pedágio, semáforos, entre outras situações de trânsito.
A arquitetura de software da IARA é bastante geral, a ponto de seu sistema de autonomia ter sido transplantado para um avião a jato comercial da Embraer – um Legacy 500 – e ter sido capaz de dotar tal jato de autonomia suficiente para realizar o primeiro taxiamento autônomo de avião de passageiros da história.
O grupo do I²CA não fica a dever nada aos vários outros grupos de empresas e universidades no mundo que pesquisam coisas semelhantes, até porque há parceria com alguns desses grupos e, estrategicamente, muitos dos alunos daqui vão participar de projetos com eles e captam informações nos trabalhos e nas conferências que ocorrem pelo mundo.
E os projetos não ficam na bancada dos pesquisadores. Duas startups deeptechs(startups com origem em projeto científico) foram geradas para colocar essas iniciativas no mercado. Como a origem das duas era a mesma tecnologia, dividiram os projetos: a Motora cuida das coisas que voam e a Lume Robotics das coisas que ocorrem no chão.
A Motora desenvolve, para ninguém menos que a Embraer, o eVTOL, popularmente conhecido como o carro voador, com 200 veículos já adquiridos pela United Airlines. E a Lume Robotics, investida pala Vix Logística, do Grupo Águia Branca, desenvolve caminhões e ônibus autônomos.
Com subida e descida horizontal, elétrico, sem piloto, vamos poder viajar de Vitória para Pedra Azul em 20 minutos, sem BR-262, com custo baixo e com tecnologia capixaba.
A tecnologia é mais exigida nos veículos autônomos que vão circular normalmente pelas ruas. Nessa vertente, várias indústrias automotivas ou de outros setores estão desenvolvendo seus projetos de veículos autônomos. Um nicho menos exigido em regulamentação, mas também sofisticado tecnologicamente, envolve áreas restritas industriais ou de mineração, caminho que a Lume Robotics seguiu. Na Vale, em Tubarão, um caminhão-pipa autônomo faz umectação de vias, outros fazem trabalhos em áreas de mineração.
Projetos como esses, tecnologia de ponta da bancada de pesquisadores indo para o mercado mundial, seus desdobramentos e o impacto que poderão ter no futuro da economia do Estado não estão ainda na pauta dos capixabas. Com ES360.