Autoridades ainda não confirmaram a informação. Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade São Gabriel
O indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram encontrados mortos nesta segunda-feira, 13. A informação é da esposa de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, compartilhada pelo jornalista André Trigueiro, da TV Globo. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades brasileiras.
Segundo o portal G1, a Polícia Federal confirmou para Alessandra que encontrou dois corpos, mas disse que ainda precisavam ser periciados. Os irmãos de Dom Phillips foram informados pela Embaixada Britânica que os corpos eram do jornalista e do indigenista.
Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade São Gabriel, não muito longe de seu destino, onde navegavam pelo rio Itaquaí. O desaparecimento da dupla foi alertado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) nesta segunda-feira. O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo.
Os dois haviam viajado até a região de Lago do Jaburu e deveriam retornar à cidade de Atalaia do Norte, a cerca de duas horas de barco. Pereira acompanhava o jornalista britânico como guia, na segunda viagem da dupla por esta região isolada da Amazônia desde 2018.
A PF confirmou no domingo, 12, ter encontrado uma mochila e um par de sandálias na área de busca pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips. Na noite deste domingo, a Polícia Federal confirmou que foram encontrados uma mochila e documentos pertencentes a dupla. O material será encaminhado a perícia. A mochila estava amarrada em uma árvore, em área de igapó, terreno de mata alagada.
Phillips, de 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos. Apaixonado pela Amazônia, onde escreveu dezenas de reportagens, o jornalista estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação Alicia Patterson.
Pereira, de 41 anos, é um especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um conhecido defensor dos direitos indígenas. Foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, município onde viajava com Phillips quando desapareceram. Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendeu ameaças regulares destes grupos criminosos.
Informações desencontradas
A Polícia Federal negou, na manhã desta segunda-feira (13), ter localizado os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari, no oeste do Amazonas, desde o último dia 5.
“O Comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal/AM, informa que, não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips”, declarou a corporação.
Em nota, a PF disse que “conforme já divulgado, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados e os pertences pessoais dos desaparecidos. Tão logo haja o encontro, a família e os veículos de comunicação serão imediatamente informados”.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil também negou a informação. “Bruno e Dom seguem desaparecidos. As informações de que corpos foram encontrados não procedem. As organizações indígenas que acompanham o caso seguem pressionando a continuidade nas buscas. Solicitamos que aguardem uma posição oficial”, escreveram em seu perfil no Twitter.
Também na manhã desta segunda (13), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que vê indícios de que o jornalista e o indigenista foram submetidos “a alguma maldade”.
“Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontrados boiando no rio vísceras humanas que já estão em Brasília para fazer DNA. Pelo prazo, pelo tempo já temos hoje 8 dias, indo para o nono dia, que isso aconteceu. Vai ser muito difícil encontrá-los com vida. Peço a Deus que isso aconteça”, disse.
Suspeito preso
Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (9). Ele foi preso por porte e munição de uso restrito. Uma testemunha ouvida pelo Brasil de Fato afirmou que “Pelado”, como ele é conhecido, ameaçou os dois um dia antes do desaparecimento. Segundo o relato, ele apontou duas armas para o grupo com o qual Pereira e Philips estavam e disse, “vocês vão levar tiros.”
“Nós chegamos à nossa base [de fiscalização], em frente a um lago de nome Jaburu. O senhor ‘Pelado’ passa beirando a nossa canoa com uma cartucheira de mais ou menos uns 30 cartuchos. Nós fizemos o vídeo e fizemos fotos. O repórter [Dom Philips] tirou foto e filmou. Todo o material estava em nossas mãos para tentar incriminar esse invasor”, contou a testemunha.
Manifestações
Neste domingo (12), manifestações pedindo agilidade nas buscas foram realizadas no Rio de Janeiro, em Salvador e em Belém. Dom Philips é casado com uma brasileira e reside na capital baiana. Os sogros dele e outros parentes da esposa vivem no Rio de Janeiro. Além da presença de familiares e amigos, os protestos foram acompanhados por artistas, militantes e ativistas.
No sábado (11), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) aprovou um pedido de medida cautelar cobrando ações urgentes sobre o caso.
Phillips e Pereira navegavam de uma comunidade ribeirinha até o município de Atalaia do Norte quando desapareceram. O indigenista acompanhava o repórter, que apurava informação para um livro no qual estava trabalhando, com o título “Como Salvar a Amazônia”.
Os moradores do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, sofrem com intensas invasões, principalmente de pescadores ilegais, que lucram alto com peixes valorizados, como o Pirarucu. A carne é consumida nas cidades do entorno e contrabandeada para fora do país.