economia

André Brandão renuncia à presidência do Banco do Brasil

19 mar 2021 - 07:00

Redação Em Dia ES

Share
Saída terá efeito a partir de 1 de abril; Brandão tomou posse como CEO em setembro de 2020 e deixa cargo em meio a insatisfações de Bolsonaro
Após muitas especulações, o Banco do Brasil (BBAS3) anunciou em comunicado ao mercado nesta quinta-feira (18) a saída do presidente da estatal, André Brandão. A saída terá efeito a partir de 1 de abril.

“O Banco do Brasil (BB) comunica que André Guilherme Brandão entregou, nesta data, a Jair Messias Bolsonaro, ao Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, e ao Presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil, Hélio Lima Magalhães, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de 1 de abril de 2021”, destaca o comunicado do banco estatal. A instituição financeira não indicou quem será o sucessor.

André Brandão tomou posse como presidente do BB em 22 de setembro de 2020, em substituição a Rubem Novaes. A saída de Novaes, por sinal, causou turbulência no mercado em meio ao anúncio inesperado. Contudo, houve uma maior tranquilidade em meio às informações sobre o seu sucessor.

Brandão veio do HSBC, onde estava desde 2003; o CEO atuava como chefe global da instituição para as Américas. Desde que vendeu o banco de varejo para o Bradesco, em 2016, o HSBC atua no Brasil apenas como banco de investimento. Antes de chegar ao HSBC, ele permaneceu mais de dez anos no Citibank (outra instituição que, recentemente, saiu do segmento de varejo no País, ao ser adquirida pelo Itaú Unibanco).

Entre os planos de Brandão, estavam o de prosseguir com a digitalização e aumentar a eficiência do banco estatal. Contudo, as medidas para elevar a eficiência acabaram contribuindo para a saída do CEO, após um 2021 marcado por especulações sobre a demissão do executivo.

Brandão já enfrentava uma situação bastante delicada desde o início do ano, quando anunciou um plano de reestruturação do banco envolvendo fechamento de 112 agências do banco e um plano de demissão voluntária, com expectativa de adesão de 5 mil funcionários. O anúncio desagradou o presidente Jair Bolsonaro, que buscou forçar uma demissão do executivo, bem avaliado pelo mercado. O presidente teria se incomodado pelo fato de não ter sido avisado previamente. Contudo, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, conseguiu convencer Bolsonaro a não tirá-lo do cargo.

Na ocasião, Campos Neto, que tem alta estima com o presidente, o alertou de que uma demissão seria avaliada como interferência política em uma empresa pública que tem ações na Bolsa.

Porém, no final de fevereiro, as especulações de que Brandão estaria de saída do banco estatal voltaram a ganhar força. Diversos veículos de mídia destacaram que Brandão teria colocado o cargo à disposição de Jair Bolsonaro,  depois de observar o destino do presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), Roberto Castello Branco, demitido pelo presidente em meio a discordâncias sobre os reajustes de combustíveis.

Impacto para as ações
Na ocasião, ao comentar as especulações sobre a saída do executivo, o Credit Suisse destacou que Brandão é bem visto pelo mercado e estava avançando nas iniciativas de reestruturação. A avaliação é de que o foco deve ser em seu potencial sucessor, aumentando a incerteza sobre os rumos do banco, avaliaram os analistas.

Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos, aponta que o mercado já precificou “uma boa parte” da saída de Brandão semanas atrás, uma vez que já havia especulações sobre a saída do executivo.

“Mas ainda pode haver algum impacto sobre as ações. O mercado sempre precifica uma probabilidade de o evento acontecer, mas como nunca é 100% ainda temos price action [reflexo nas ações] para ver. Agora, é esperar que venha alguém técnico e que tenha liberdade para continuar com as mudanças na gestão que o banco precisa para se adequar à essa nova realidade de fintechs, juros baixos e empresas ágeis”, avalia Lang.

Marcel Campos, analista de setor financeiro da XP, acrescenta que o fato de as ações registrarem uma das piores performances do ano na Bolsa entre os bancos – com queda de 19,95% em 2021, a quinta maior baixa do Ibovespa no ano – também reforça a visão de que boa parte da notícia já foi precificada.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, por sua vez, ressalta que a saída do Brandão deve ser mal recebida pelos investidores, uma vez que se concretiza a saída de mais um nome alinhado com a agenda liberal e de modernização do banco, inclusive avançando mais neste ponto do que os seus antecessores.

“Existe uma necessidade de o Banco do Brasil se modernizar, ter um choque de tecnologia. Hoje em dia, quando os bancos anunciam que estão fechando agência, a reação do mercado é positiva, uma vez que faz sentido economicamente. O BB deveria seguir também essa linha para se mostrar competitivo”, avalia.

Cruz lembra que já havia especulações sobre eventuais nomes cotados para substituir Brandão e que, dependendo do nome a ser indicado para substituir Brandão, pode haver uma reação mais ou menos negativa dos investidores.

O estrategista cita que muito se falou sobre o Márcio Schettini, que chegou a ser cotado como CEO do Itaú e saiu do banco recentemente. Porém, mesmo com um nome pró-mercado, ainda haveria dúvida sobre a autonomia do novo executivo.

“Em tempos normais, este nome seria muito celebrado. Mas agora o mercado fica com a dúvida: será que ele vai ter liberdade de seguir um planejamento parecido com o que estava sendo proposto? Parece que não”, aponta Cruz.

Ele ressalta que há outros nomes cotados e até uma “solução caseira”, que é Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente corporativo do BB. Outro nome especulado é de Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. “Mas independentemente do nome, não parece que será alguém que vai seguir a linha de Brandão, o que deve trazer desgaste”, avalia. Assim, o especialista recomenda aos investidores que se afastem de ações das estatais no momento.

Já Campos destaca que, mesmo com as atenções voltadas para o nome do novo comandante do BB, o mercado tende a ser cético quando mudanças tão importantes são feitas em um espaço tão curto de tempo.

Roberto Attuch Jr., CEO da Ohm Research, avalia que a saída de Brandão vai ser interpretada como mais um passo do governo em uma direção mais populista e intervencionista.

“Tem um ditado que diz: ‘Mulher de César não tem que só ser honesta, tem que parecer honesta’. É mais um ingrediente nessa confusão política em que está o Brasil. Mesmo que a [possível] candidatura inesperada de Lula, que vem pautando Bolsonaro, não tenha nada a ver com a saída de Brandão, muita gente vai conectar os eventos, que não são correlacionados”, destaca o especialista, em referência aos desdobramentos da decisão do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Operação Lava Jato. Com Lula de volta ao páreo para 2022 e a maior polarização, também aumentaram os debates sobre uma possível inclinação de Bolsonaro a adotar medidas mais populistas (veja mais clicando aqui).

Quando a saída de Brandão ainda estava no campo das especulações, o Bradesco BBI ainda ressaltou outro ponto além da discussão sobre o potencial nome a ser indicado: o fato de que a transição deve custar tempo para o BB. “Em momentos como este, o tempo é um recurso extremamente valioso que não deve ser desperdiçado”, avaliaram os analistas.
0
0
Atualizado: 19/03/2021 07:00

Se você observou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, nos avise. Clique no botão ALGO ERRADO, vamos corrigi-la o mais breve possível. A equipe do EmDiaES agradece sua interação.

Comunicar erro

* Não é necessário adicionar o link da matéria, será enviado automaticamente.

A equipe do site EmDiaES agradece sua interação.