Cardiologista explica porquê pacientes com problemas cardiovasculares podem ter sintomas mais sérios
Em meio a tantas dúvidas sobre o novo coronavírus, uma coisa já é certa. Pessoas com doenças cardiovasculares são mais propensas a desenvolver complicações decorrentes da infecção pelo novo coronavirus, o Covid-19. É o que aponta um estudo publicado em fevereiro, com 138 pacientes internados por pneumonia causada pelo coronavírus em seu local de origem, em Wuhan, na China.
Dentre os infectados, 16,7% desenvolveram arritmias cardíacas, 7,2% tiveram algum tipo de lesão do miocárdio (músculo cardíaco) pelo vírus, e 8,7% desenvolveram choque hemodinâmico (queda acentuada da pressão arterial, com necessidade de uso de medicamentos endovenosos para manutenção da pressão). Existe ainda evidência de que o novo coronavírus também tenha o potencial de causar miopericardite, uma inflamação do músculo cardíaco e do pericárdio, membrana que reveste o coração.
O médico cardiologista Dr. Patrick Pertel Capatto explica que em epidemias os casos mais graves são comuns em pacientes com doenças crônicas, entre elas as doenças cardiovasculares.
“Em epidemias desse porte, os casos que evoluem a óbito ou complicações são mais comuns entre aqueles portadores de doenças crônicas, incluindo as doenças cardiovasculares. Relatos preliminares mostram que uma alta proporção de pacientes com o novo coronavírus têm cardiopatia, com 40% dos pacientes hospitalizados pela doença tendo algum histórico prévio de doença cardiovascular ou cerebrovascular de base.
Dr. Patrick lembra que a inter-relação entre infecções respiratórias e doenças cardiovasculares não é novidade. Em grandes epidemias por influenza, o número de mortes por eventos cardiovasculares superava as mortes decorrentes de pneumonia.
“De maneira geral, indivíduos com doenças crônicas, como os acometidos por problemas no coração, apresentam deficiência no sistema imunológico. Uma vez infectados, eles correm um maior risco de apresentar complicações sérias em comparação a uma pessoa saudável”, pondera o cardiologista.
Prevenção
O médico diz que medidas de precaução para evitar transmissão, como a lavagem de mãos, uso de máscaras e isolamento de casos suspeitos são de alta prioridade. Além disso, a vacinação é fundamental.
“É importantíssimo que os pacientes cardiopatas se mantenham atualizados quanto à sua vacinação, com destaque para anti-influenza e anti-pneumocóccica, tanto para prevenir complicações bacterianas secundárias do COVID-19 como para evitar uma causa alternativa de febre que pode ser confundida com o novo coronavírus”, explica Capatto.
Interação com medicamentos
Na última semana, circularam informações sobre um aumento da chance de quadros mais graves de Coronavirus em pessoas que fazem uso de medicamentos anti-hipertensivos da classe dos “IECAs” (Exemplos: Enalapril, Captopril, Ramipril) e “BRAs” (Exemplos: Losartan, Telmisartan, Valsartan, Cadesartan). Entretanto, isto não é comprovado.
“Até o momento, de acordo com orientações das sociedades Europeia e Brasileira de Cardiologia e Hipertensão, estas classes de medicamentos são extremamente importantes para o tratamento da hipertensão e da Insuficiência cardíaca, e não devem ser suspensas, já que não há dados suficientes para tal recomendação”, explica o Dr. Patrick.
Médico cardiologista Dr. Patrick Pertel Capatto