Segundo um estudo, 72% dos jovens se mantêm solteiros por opção, e as mulheres disseram se sentir empoderadas por não estarem em um relacionamento
Lizzo, considerada a cantora do ano pela revista Time, coloca o “sing” em “single” e não está preocupada com um anel em seu dedo. Aliás, “Truth Hurts”, a canção em que ela manda essa mensagem, venceu o Grammy de 2020. A cantora Selena Gomez, por sua vez, precisou perder alguém (vulgo, Justin Bieber) para amar a si mesma. Agora não tem vergonha de contar isso para quem quiser ouvir em “Lose You to Love Me”, sua primeira canção a chegar ao topo da Billboard.
Prestes a completar 30 anos, a atriz britânica Emma Watson declarou em uma entrevista que seu status de relacionamento atual é “self-partnered”, ou “em parceria com ela mesma”. As famosas não são as únicas a fazerem as pazes com a solteirice: existe uma tendência entre as mulheres jovens de estarem lindas, livres, leves e soltas.
Segundo um estudo da consultoria Morar HPI, feito a pedido do Tinder, 72% de 1.000 jovens entre 18 e 25 anos ouvidos pela pesquisa se mantêm (ou já se mantiveram) solteiros por opção durante algum período de suas vidas. E as mulheres, mais do que os homens, disseram se sentir empoderadas por não estarem em um relacionamento.
O que a atriz Emma Watson chamou de “self partnered” — termo rapidamente definido pelo Urban Dictionary como “um sinal de que você está feliz e contente consigo mesma e não está procurando um relacionamento” –, a psicóloga Lígia Baruch de Figueiredo resolveu chamar de “tinderellas”: mulheres que não veem mais a necessidade de manter um relacionamento ou buscar novos formatos para suas relações. “Esse é um movimento que vem acontecendo junto com outros movimentos femininos”, explica a autora do livro “Tinderellas: O amor na era digital”, lançado no fim de 2016.
“A busca sempre foi por autonomia financeira e emocional, e uma parte leva à outra.” Muito dessa liberdade veio graças ao avanço da internet, da tecnologia e dos aplicativos de namoro. “Isso permitiu que muitas mulheres tenham uma vida sexual mais ativa sem precisar de intermediação do entorno”, explica Lígia. O livro é resultado de sua tese de doutorado pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), em que investigou a busca amorosa nos aplicativos de namoro em smartphones e traçou os perfis de mulheres brasileiras solteiras.
Solteira sim, sozinha não
“Até pouco tempo atrás, a mulher que não conseguisse um ‘bom casamento’ ficava refém de uma situação limitada, sem renda própria, às vezes até sem herança”, diz a pesquisadora. Nesse contexto, as solteiras eram estigmatizadas, pois acabavam virando “apêndices” das famílias.
“Quando a mulher ganha autonomia, o casamento deixa de ser uma necessidade de sobrevivência e vira algo para trazer satisfação própria”, diz. A analista de marketing Carolina Silveira, 28 anos, solteira há pelo menos oito anos, passou por um processo de “desconstrução” do sonho de um casamento até se sentir confortável com a vida solo. “Na época da faculdade, tinha desejo de casar, ser mãe de 12 filhos, dona de uma casa com um quintal médio e ficar batendo bolo o dia inteiro. Era inclusive um folclore na minha família”, conta, rindo.
“Hoje prefiro construir meus sonhos em cima de coisas que dependem de mim, e deixar que a vida me surpreenda com outras.” Mas estar solteira não significa estar sozinha. Ela chegou a ter relacionamentos mais sérios, mas decidiu pisar no freio para focar na carreira e manter sua liberdade.
Para a cientista de alimentos Julia Prudencio Moreira, 28 anos, solteira há um ano, o período tem significado um trabalho de autoconhecimento. “Quando você enxerga o amor-próprio e começa a amar sua solidão, descobre que você é a sua melhor companhia”, afirma.
“As mulheres estão experimentando novas formas de se relacionar, há mais possibilidades de escolha”, diz Baruch de Figueiredo. Foi exatamente o que aconteceu com Moreira, que na readaptação à vida solo chegou à conclusão de que o mais importante é não se apegar a nenhuma expectativa e respeitar a própria vontade. “Quando você está solteira, também existe uma caixinha que você tem que entrar, de poder transar com todos, aproveitar”, conta. “Até tentei me encaixar, mas ia na balada querendo pegar geral e saía com uma mão na frente e outra atrás.”