Greening: a doença impede desenvolvimento das plantas e afeta qualidade dos frutos
O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), reforça a importância do monitoramento da mais grave e destrutiva doença dos citros, conhecida como Greening ou HuangLongBing (HLB), para que não chegue aos pomares capixabas.
A palavra “green”, no início do nome, significa o “verde” das áreas sadias das frutas, mas que, em casos de doença, pode ser contrastado junto a uma coloração amarela pálida nas partes afetadas. Ou seja, a palavra tem um significado que vai muito além de uma simples tonalidade, já que a doença impede o desenvolvimento normal da planta, o que afeta a qualidade dos frutos cítricos, que caem precocemente e não podem mais ser comercializadas.
A doença é caracterizada por provocar amarelecimento desuniforme, desfolha, seca e morte de ramos, com maturação irregular dos frutos, redução do tamanho, deformação e queda intensa. “A bactéria se espalha por toda a planta a partir do ramo afetado, sendo que, quando os sintomas aparecem nas extremidades da copa, a bactéria já pode estar alojada bem abaixo no tronco, impedindo a distribuição da seiva, retardando o seu desenvolvimento”, explicou Marianna Abdalla Prata, a extensionista do Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR), do Incaper de Jerônimo Monteiro.
Prevenção e controle
A doença ainda não foi constatada no Espírito Santo, porém está presente nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. “O Greening pode levar de três meses a três anos para se manifestar. Portanto, o monitoramento pelo sintoma nas plantas dificulta a identificação da entrada. Caso seja constatada aqui no Espírito Santo, as perdas serão grandes, dada a gravidade da doença e a necessidade de erradicação dos pomares. E como a maioria das lavouras não são mecanizadas, isso dificulta ainda mais o manejo”, alertou a extensionista.
O entomologista e pesquisador do Incaper, Renan Batista Queiroz, lembrou que a doença pode ser disseminada pelo inseto vetor, o psilídeo (Diaphorina citri), que tem a murta (Murraya paniculata) como hospedeiro principal.
“Já existe psilídeo no Espírito Santo, porém não encontramos esses insetos infectados com a bactéria causadora da doença. Outra forma de entrada do inseto já infectado com a bactéria é por mudas de citros contaminadas vindo de outros estados, que seria uma forma de completar o ciclo e ser disseminada no Estado”, explica.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, o Espírito Santo possui uma produção, aproximada, de 21.951 toneladas de tangerinas e mexericas, 17.519 toneladas de laranjas, 14.292 toneladas de limas ácidas e limões, colhidas em cerca de 24.100 propriedades rurais capixabas, responsáveis por abrir portas de trabalho para mais de 3.300 pessoas.
Portanto, como não há controle sobre a doença, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determina a erradicação das plantas doentes, quando a doença for constatada no pomar, por meio de análise laboratorial fiscal, e os sintomas não excederem 28% do total de plantas.
No Espírito Santo, a proposta é o monitoramento por meio do inseto vetor, que consiste na captura do psilídeo e, posteriormente, envio para a realização de análises laboratoriais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus do município de Alegre. Os insetos coletados poderão ser entregues nos Escritórios Locais do Incaper e do Idaf, que encaminharão as amostras ao laboratório.
Manejo seguro e expectativas
O pesquisador do Incaper, Flávio de Lima Alves, lembrou que, apesar do número de estabelecimentos produtores de frutas cítricas ter aumentado para mais de 13 mil estabelecimentos nos últimos 15 anos, ainda existem materiais utilizados pelos agricultores que não são experimentalmente adaptados aos variados microclimas do Estado.
“Essa é uma das principais razões pela qual vimos a baixa qualidade dos frutos produzidos. Além disso, parte dos pomares também recebe orientações técnicas provenientes das casas de venda de insumos. Deve-se desenvolver um sistema específico para produção de fruta “in natura” ou suco, e as tecnologias que não provém do Espírito Santo devem, criteriosamente, serem utilizadas com prévia experimentação”, disse Alves.
O pesquisador lembrou que mais um projeto já está sendo desenvolvido em campo, com relação à introdução, coleta, avaliação e manutenção de genótipos de citrus, a fim de elevar a produtividade média estadual de laranjas por hectare, ampliar a longevidade dos pomares para 20 anos; aumentar a qualidade das frutas cítricas produzidas; ampliar a oferta estadual de laranjas, tangerinas e limões, de 6 a 8 meses para 12 meses, além de aumentar e diversificar a quantidade de materiais genéticos nos pomares.
Fiscalização
Para evitar a introdução da doença no Espírito Santo, o Idaf desenvolve um trabalho constante de fiscalização, seja na rotina de inspeção sanitária em propriedades rurais ou nos postos de fiscalização, por meio do controle do trânsito de vegetais.
O gerente de Defesa Sanitária e Inspeção Vegetal do órgão, engenheiro-agrônomo Daniel Abreu, explica que a fiscalização do trânsito para verificar se as cargas estão sendo transportadas com a Permissão de Trânsito de Vegetais (PTV) é essencial.
“Como a PTV é fundamentada por um Certificado Fitossanitário de Origem (CFO), sem o documento não é possível garantir a sanidade do produto. A partir do CFO, que é emitido por um engenheiro agrônomo habilitado, podemos saber se a carga está adequada. Com a ausência do documento, a legislação prevê o rechaço para evitar a introdução de novas pragas no Estado, como o Cancro Cítrico e o Greening, que colocam em risco a cultura dos citros”, explicou Abreu.
AlertGreen
Em 2018, o projeto “AlertGreen – Sistema de Alerta para Monitoramento de Diaforina citri, vetor do Greening”, desenvolvido numa parceria entre o Idaf e o Incaper, foi vencedor na categoria “Ideia”, do Prêmio Inoves.
Segundo o engenheiro-agrônomo do Idaf em Alegre, Ringo Souza Batista, trata-se de um sistema para monitoramento do Greening, que visa manter o Estado como área sem ocorrência dessa doença.
“A coleta dos insetos no campo e o exame laboratorial de diagnose do agente causador da doença já estão sendo realizados. Além disso, está sendo desenvolvido um protótipo do sistema para a execução da ideia, com a participação de citricultores, responsáveis técnicos e profissionais da defesa vegetal do Idaf”, informou.