O mundo atual tem dois pesos e duas medidas em que tudo parece tão mais fácil e, ao mesmo tempo, enche-nos de nada, torna-nos seres vazios
A cada ano que acaba, determinamos que no próximo ocorrerão mudanças na nossa vida, é a célebre frase “ano novo, vida nova!” que, na maioria das vezes, se perde e se fica apenas pelos planos. O mundo atual tem dois pesos e duas medidas em que tudo parece tão mais fácil e, ao mesmo tempo, enche-nos de nada, torna-nos seres vazios.
Na era da autoajuda, a satisfação pessoal do ato de ajudar é rara, tendo sido suplantada pelo interesse financeiro de pessoas que ganham dinheiro tentando ajudar as outras. Muitos viram nesse ato uma profissão, mesmo sem os conhecimentos necessários para exercer tal tarefa. Podemos chamá-los de conselheiros público-privados. São privados, pois os pagamos, e públicos, pois são assistidos por muitos.
Essas pessoas aparecem justamente numa época em que não precisamos nos esforçar tanto como num passado próximo, em que vivemos mais que antes, que interrompemos menos a nossa vida, cujo ciclo termina mais frequentemente no que seria o fim, na velhice, na era em que há menor mortalidade infantil, menos fome e nos esforçamos bem menos para conseguir o essencial para sobreviver.
Mas então, qual o motivo da crescente desmotivação: o fato de o esforço ser menor? A falta de acontecimentos e obrigações? O essencial sendo suprido nos faz criar acontecimentos ou tristezas por falta de tristezas? Procuramos um motivo, um objetivo?
“A falta de obrigações nos afeta a ponto de nos sentirmos preguiçosos em saber que temos obrigações.”
Vivemos essa dualidade: o não ter obrigações, mas também não ter vontade, se elas surgirem. É como se se acionasse o dispositivo da falta, como se contaminasse todo o ser e este passasse a não ter mais vontade. Somos, na nossa maioria, seres inertes, desprovidos de projetos e com pensamento preguiçoso. Creio que a era das tecnologias, em especial da internet, tornou-nos seres que escolhem a facilidade. A nossa agilidade mental decaiu na mesma proporção em que a facilidade de acesso tudo aumentou.
Para resolver toda essa ociosidade atemporal, devemos criar o que muitos chamam de sonho, mas eu chamo de metas. Os sonhos são ilusões do inconsciente durante o sono, e eu me refiro a algo concreto. As nossas metas pessoais devem funcionar como foco, meta de vida alcançável, pelas quais devemos ser mais fortes do que a nossa preguiça.
Neste novo ano, proponha-se uma meta: transformação!
“Na natureza, nada se perde, tudo se transforma, mas nós, humanos, se não nos transformarmos, nós nos perdemos.”
Como parte integrante da natureza, formados pelos mesmos componentes desta, a transformação também faz parte da nossa vida. Mesmo que estejamos parcialmente satisfeitos, sempre há algo para melhorar. A evolução é uma constante e deve se fazer presente em todos os aspectos da vida. Melhorar, evoluir, aperfeiçoar-se, reinventar.
Necessariamente, para nos reinventar, criar uma melhor versão de nós mesmos, temos de nos aprofundar em algo primordial: o autoconhecimento. Por meio do autoconhecimento, de uma meditação, devemos alcançar o chamado ponto de equilíbrio. A reflexão deve ponderar sobre tudo em nossa vida: erros, acertos, comportamentos, caminhos traçados e seus resultados.
“Meditação existencial é um resumo da vida e suas nuances para a percepção racional para o resultado.”
Temos já as três palavras primordiais para chegarmos ao nosso objetivo neste texto: transformação, reinvenção, autoconhecimento.
“Caminhos só são traçados ao caminhar.”
Não podemos nos esquecer de que, sem agir, nada acontece. Nós somos o motor, a força, o combustível para alcançar as nossas metas.
O caminho deve ser percorrido assente numa ideia concreta. Não vamos confundir ideia com ideal.
“Todo idealismo inverte a realidade e interfere na sabedoria.”
Idealismo é uma ideia ingênua, já que esconde a realidade embutida nos pormenores ou nuances, e resulta num julgamento. Julgar é uma palavra sobre a qual devemos refletir, pois quem julga demais não está aberto a aprender. O conhecimento parte do princípio de ter ciência do motivo pelo qual sucedeu a ação. Ter uma ideia é bolar um plano de vida para que possamos seguir um caminho e alcançar uma meta.
Temos sempre que buscar o lado bom da vida e, com isso, amenizar o sofrimento. Dessa forma, priorizamos a alegria e temos a mente refrescada para continuar nossa trajetória. Na nossa busca pela transformação, devemos focar em algo importante: ser bom, fazer o bem, mesmo que isso nos faça pensar que ser bom pode ser doloroso.
“Os bons sofrem, pois analisam demasiado o errado.”
Essa é a razão do sofrimento: ter uma visão apurada da realidade. Ao deixar de ser egoístas, estamos a expor o nosso íntimo, a dar de nós. Mas escolher o lado bom é também uma questão de inteligência.
Fazer o bem é uma maneira de ser bem-visto pela sociedade e com isso sua conquista se torna mais facilitada. Nesse percurso, há algo mais a ter em conta: a humildade. Como já falei em outros textos, essa dádiva intelectual, a humildade, é a facilidade que a pessoa tem de observar o mundo e aceitar que sempre temos mais a oferecer e podemos ser sempre melhores.
Isso inclui aprender com os erros. Aprender com os erros é uma lição para ser guardada, já que ela é a resposta de uma cognição necessária dentro da experiência para que se erre menos depois.
Sendo assim, a minha mensagem de ano novo é simples: esteja só em um lugar que o agrade e lhe traga paz, ou esteja com sua mente em plena conciliação.
Faça uma retrospectiva da própria vida, exercite o autoconhecimento, tenha noção dos seus erros, acertos, competências e incompetências. Acrescente uma grande dose de humildade para pensar nos exemplos, nos outros.
Crie metas para que tenha um caminho a percorrer e objetivos pelos quais lutar. Não se deixe abater pelos obstáculos, pelas pessoas que o deixam triste. Pense que eles servem para você aprender, ter mais experiência e sabedoria para lidar melhor com os problemas. Tente fazer com que a razão prevaleça sobre a emoção na resolução de problemas concretos, mas se permita sentir, quando achar necessário.
Liberte-se e aproveite tudo o que o novo ano tem para lhe oferecer!