política

Congresso e STF articulam proposta que reduz pena para réus do 8 de janeiro

29 abr 2025 - 16:45

Redação Em Dia ES

por Julieverson Figueredo, com informações de Folha de S. Paulo e O Globo

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Minuta de proposta articulada pelo presidente do Senado prevê novo tipo penal com punição mais branda para quem participou das invasões às sedes dos Três Poderes, mas sem envolvimento direto na organização dos ataques
Congresso e STF articulam proposta que reduz pena para réus do 8 de janeiro. Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma proposta de alteração na Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, resultado de negociações entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), prevê a criação de um novo tipo penal que poderá reduzir as penas de condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. A medida beneficiaria apenas os envolvidos que participaram dos atos influenciados pela multidão, mas que não desempenharam papel de liderança, planejamento ou financiamento.

A minuta do texto foi elaborada por consultores legislativos ligados ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e deve ser apresentada nos próximos dias, com expectativa de votação ainda em maio. Segundo parlamentares envolvidos nas tratativas, o objetivo da proposta é reduzir a pressão por uma anistia ampla, que perdoaria todos os envolvidos, incluindo aqueles acusados de articular uma tentativa de golpe de Estado, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O texto em discussão prevê três mudanças na legislação atual. A principal delas é a criação de um novo tipo penal que puniria a atuação de indivíduos em atos contra o Estado democrático de Direito quando influenciados por uma multidão. A nova pena proposta varia entre dois e seis anos de reclusão, em contraste com as penas atuais, que somam de 8 a 20 anos quando há condenação simultânea por tentativa de golpe de Estado e por abolição violenta do Estado democrático de Direito.

Essa nova tipificação penal poderia substituir as acusações mais graves em determinados casos, o que representaria uma redução significativa nas penas e permitiria, por exemplo, a progressão para o regime semiaberto de parte dos condenados. Um caso citado é o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada a 14 anos de prisão pelo STF. Caso a proposta seja aprovada, a pena dela poderia ser reduzida em mais de cinco anos.

A proposta também trata da possibilidade de evitar a duplicidade de acusações para atos que podem ser enquadrados simultaneamente como tentativa de abolição do Estado democrático e tentativa de golpe. Pelo texto, o acusado poderia ser condenado apenas pelo primeiro crime, com agravante se houver comprovação de que o objetivo final era um golpe de Estado. Ainda assim, casos em que o réu tenha praticado ações distintas que configurem ambos os crimes continuariam a permitir a acumulação das penas.

A terceira mudança sugerida é a introdução de um agravante específico para líderes, financiadores e organizadores de ataques ao Estado democrático. Essa medida, porém, só seria aplicada em situações futuras, respeitando o princípio jurídico de que mudanças penais só retroagem quando são favoráveis ao réu.

De acordo com fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo, há resistência dentro do STF quanto à ideia de que a proposta seja interpretada como resultado de um acordo formal entre os Poderes. Um ministro afirmou que o Supremo apenas aplicou a legislação em vigor, aprovada pelo próprio Congresso em 2021, e que mudanças agora sinalizariam um ajuste de dosimetria por parte do Legislativo.

Apesar das ressalvas, ministros como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso têm participado das discussões. Barroso, presidente do STF, afirmou em entrevista que não se opõe à mudança legislativa. “A solução para quem acha que as penas foram excessivas é uma mudança na lei. Não acho que seja o caso de anistia, porque anistia significa perdão. E o que aconteceu é imperdoável. Mas redimensionar a extensão das penas, se o Congresso entender por bem, está dentro da sua competência”, disse o ministro ao jornal O Globo.

A proposta conta com apoio do governo federal, conforme sinalização do líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). O principal entrave é o PL, partido de Bolsonaro, que defende a aprovação de uma anistia ampla. Já siglas do centrão têm mostrado disposição de isolar o partido na tentativa de viabilizar a nova legislação.

Senadores favoráveis à mudança argumentam que o novo tipo penal traria “elasticidade e razoabilidade” às decisões judiciais sobre os envolvidos, diferenciando com mais clareza os responsáveis diretos por ataques à democracia dos participantes circunstanciais, influenciados pelo movimento coletivo.

A proposta, caso aprovada, poderá acelerar a progressão para o regime semiaberto e a libertação de parte dos réus já condenados, ao mesmo tempo em que manteria penas mais severas para os mentores e financiadores dos atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, quando os prédios do Congresso Nacional, do STF e do Palácio do Planalto foram invadidos e depredados por manifestantes.

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Atualizado: 29/04/2025 16:54

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