O abastecimento de água no Espírito Santo pode ser severamente afetado por tempestades intensificadas pelas mudanças climáticas, conforme aponta um estudo inédito lançado em novembro pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a WayCarbon. A pesquisa, intitulada “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: Como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?”, projeta os impactos climáticos no saneamento básico até 2050, avaliando riscos associados a tempestades, secas e ondas de calor em diversas regiões brasileiras.
De acordo com o estudo, 22% dos municípios capixabas apresentam risco alto, enquanto 78% estão classificados com risco muito alto de sofrerem impactos no sistema de abastecimento de água devido a tempestades. O estado também figura entre os mais vulneráveis ao aumento do volume de precipitações máximas em períodos curtos, como cinco dias consecutivos, o que resulta em maior acúmulo de sedimentos nos mananciais.
Principais impactos no Espírito Santo e outros estados
As tempestades intensas, associadas às mudanças climáticas, geram uma série de problemas no sistema de abastecimento de água, incluindo:
. Acúmulo de sedimentos nos mananciais: Após chuvas prolongadas, os rios que abastecem a população recebem grande quantidade de sedimentos, dificultando o tratamento da água.
. Danos físicos nas infraestruturas: Bombas e adutoras podem ser danificadas ou paralisadas devido às inundações, interrompendo o fornecimento de água.
. Redução da qualidade da água: A turbidez gerada pelas chuvas exige maior eficiência no tratamento.
A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, destacou os desafios enfrentados. “As tempestades afetam o sistema de abastecimento de água de diversas formas, como no rompimento de adutoras e na parada de bombas, o que impacta diretamente a população, que muitas vezes fica sem água por períodos prolongados”, explicou.
Além do Espírito Santo, os estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro também apresentam alta vulnerabilidade. O estudo aponta que 92% das cidades gaúchas estão em risco muito alto de sofrer impactos no sistema de abastecimento por chuvas intensas. Já no Rio de Janeiro e Espírito Santo, o risco aumenta devido ao carreamento de solos para os mananciais, agravando a turbidez da água.
Impactos no esgotamento sanitário e saúde pública
O estudo também aborda o impacto das tempestades no sistema de esgotamento sanitário, especialmente em estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde há maior risco de contaminação de águas superficiais. Em áreas com baixa cobertura de coleta e tratamento de esgoto, as inundações podem intensificar o contato da população com patógenos, aumentando casos de doenças como leptospirose e diarreia.
Segundo Luana Pretto, “o esgoto bruto acaba sendo carreado para rios e mares, contaminando pessoas durante inundações ou pelo contato com cursos d’água poluídos. Isso representa um risco direto à saúde pública.”
Medidas para mitigação
Para minimizar os impactos das mudanças climáticas, o estudo recomenda uma ação coordenada entre governos e concessionárias. Entre as principais medidas estão:
. Fortalecimento da infraestrutura: Construção de estações de tratamento de água mais robustas e capazes de operar sob condições climáticas extremas.
. Investimento em tecnologia: Ampliação do reuso e diversificação das fontes de água.
. Gestão sustentável de recursos hídricos: Políticas públicas voltadas à conservação e à redução do desperdício de água.
“A gente precisa que os governos e concessionárias entendam as ameaças climáticas de suas regiões e busquem ações estruturantes para mitigar esses impactos”, enfatizou Pretto.
Metodologia do estudo
A pesquisa utilizou modelos climáticos do Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6), também empregado no 6º Relatório de Avaliação do IPCC, com dados de saneamento coletados em estados e municípios brasileiros. Foram analisados cenários climáticos históricos e projeções futuras até 2050, considerando vulnerabilidade e exposição das infraestruturas de saneamento básico.
O Em Dia ES entrou em contato com a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) sobre os dados apresentados pelo estudo e questionou o órgão sobre os investimentos e planejamentos acerca do tema, mas não obtivemos resposta até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto e o texto será atualizado assim que recebermos um posicionamento.