A Reserva Biológica de Sooretama, uma das áreas de preservação ambiental mais antigas do Brasil, enfrenta uma crescente ameaça com a invasão de caçadores que ignoram as proibições legais.
O local, criado em 1941 e situado no Norte do Espírito Santo, abriga espécies de animais, algumas em risco de extinção, que estão sendo alvo de caçadores, que chegam a acampar na área remanescente de Mata Atlântica para praticar a caça ilegal.
Segundo informações da Polícia Militar Ambiental, a caça na reserva é proibida há mais de 40 anos, especialmente após o reconhecimento pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que destacou o valor ecológico da região para a humanidade. Apesar das abordagens policiais e da atuação de órgãos ambientais, os caçadores não se intimidam.
“A caça é proibida e a pessoa flagrada responde por crime ambiental. Se for pego em delito flagrante com os apetrechos, os caçadores são conduzidos à delegacia e apresentados à autoridade policial e ao judiciário”, afirmou o capitão Jordan Cesar, da Polícia Militar Ambiental.
Os caçadores, agindo sozinhos ou em grupos, aproveitam as áreas mais densas da reserva para montar acampamentos provisórios, de onde organizam suas incursões em busca de animais silvestres. Eles utilizam desde armas de fogo até armadilhas artesanais para capturar os bichos, alguns dos quais são abatidos de forma cruel.
Uma das ferramentas apreendidas pelos agentes é um arpão artesanal, que, ao ser disparado, fisga o animal com uma ponta afiada que se prende dentro do corpo do bicho, impossibilitando a remoção sem causar ainda mais danos.
“A arma fisga o bicho de forma cruel e depois desenrola toda a linha. Aí o caçador puxa e não tem saída. O animal não tem muita chance”, explicou José, agente fiscalizador da reserva há 30 anos.
Além da ameaça à fauna, a caça ilegal representa um risco para a comunidade que vive nos arredores da reserva. Com a redução das populações de presas naturais, animais como onças e outros felinos podem sair da área protegida em busca de alimento, aumentando o perigo para os moradores.
“A tendência é os animais, os felinos, saírem da unidade de conservação em busca de alimento, colocando em risco até as crianças que brincam nos quintais em volta da área de preservação”, alertou José.
Durante uma recente operação de fiscalização, que durou três dias, os agentes conseguiram prender um caçador que estava acampado dentro da mata. Com ele foram encontrados uma barraca e diversos equipamentos usados para a caça de animais.
A Polícia Militar Ambiental reforçou que as operações para combater a caça ilegal na reserva continuam, mas ressaltou a dificuldade em impedir todas as invasões devido à vasta área da reserva, que se estende por 27 mil hectares.