Líder em produção e exportação de pimenta-do-reino no País, o Espírito Santo aposta na transferência de conhecimento e tecnologias aos produtores para contribuir com o aperfeiçoamento da produção e consolidar esse protagonismo. Nesse contexto, o município de São Mateus recebeu, na manhã desta sexta-feira (30), o Dia de Campo para compartilhar informações sobre a cultura com agricultores e técnicos do norte do Estado.
O evento integra as atividades do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), autarquia vinculada à Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), nessa parte do território capixaba, região que concentra a maior produção da especiaria.
Realizado na propriedade da família Sacconi, na localidade de Nestor Gomes, o evento promoveu apresentações técnicas em quatro estações conduzidas por profissionais do Incaper reunindo mais de 120 participantes.
A atividade contou com a participação do secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli; do diretor-geral do Incaper, Antonio Elias Souza da Silva; e do subsecretário de Estado de Desenvolvimento Rural, Michel Tesch Simon.
“Já estamos chegando a um número de produtores de pimenta-do-reino no Espírito Santo que ultrapassa o total de propriedades que trabalham com pecuária de leite por aqui. No caso de São Mateus, 72% das propriedades cultivam a pimenta”, disse.
O secretário prosseguiu: “Esse arranjo é responsável por até 65% das exportações nacionais da cultura, gerando emprego e renda para quem vive no campo, resultado também da contribuição de extensionistas e de pesquisadores, além dos programas de desenvolvimento e das parcerias entre os setores público e privado.”
Já Antonio Elias destacou a importância das ações de socialização de conhecimento e tecnologias, como os dias de campo, para o aprimoramento da cultura. “A interação entre profissionais de pesquisa, assistência técnica, extensão rural e produtores rurais é fundamental não apenas para a transferência de conhecimentos, mas para a troca de experiências entre esses agentes e atualização das demandas do campo para a pesquisa, que vai gerar novas práticas e tecnologias para aperfeiçoamento da produção”, avaliou.
Palestras técnicas
Os determinantes climáticos para a produção da pimenta-do-reino foram abordados pela pesquisadora Sara Dousseau. Ela apresentou as condições de temperatura, umidade relativa e precipitação consideradas ideais para uma adequada formação de flores e frutos, bem como estratégias de manejo em fase de validação que podem ajudar a mitigar problemas derivados de fatores climáticos nesse processo.
Na estação conduzida pelo extensionista João Henrique Trevizani, o tema foi o cultivo da pimenteira-do-reino em tutores vivos, que consiste no uso de árvores como suporte para o desenvolvimento da planta. A técnica foi apresentada como alternativa ao sistema tradicional em tutor morto (estaca de madeira). A adesão ao tutor vivo pode reduzir custos, proporcionar melhor conforto térmico para as plantas e trabalhadores das lavouras, além de aumentar o rendimento das colheitas, ao diminuir o abortamento das flores, devido ao sombreamento parcial gerado pela copa das árvores. O extensionista apresentou as espécies gliricídia, moringa e neem indiano como opções de tutor vivo.
Os participantes também receberam orientações sobre as necessidades e manejos nutricionais da pimenteira-do-reino, com o extensionista Wesley Ribeiro, que destacou a importância de análises de solo e de folhas bem feitas e mostrou como identificar sintomas de deficiência nutricional.
O evento apresentou ainda práticas de pós-colheita indicadas para evitar a contaminação pela bactéria salmonela, manter a qualidade do produto e minimizar perdas, com a extensionista Mariana Barboza Vinha.
Os participantes elogiaram a qualidade das apresentações e a organização do evento, destacando a importância das informações compartilhadas.
As orientações foram de grande valia para Valguimar de Oliveira, de Vila Pavão, que está substituindo o cultivo em tutores mortos por tutores vivos em sua lavoura. “Eu percebi que estou fazendo a condução em árvore de gliricídia de forma errada. Agora, aprendi o jeito certo”, afirmou o produtor.
Produção e exportação
O Espírito Santo produziu 78.979 toneladas de pimenta-do-reino em 2023, mais de 60% da produção brasileira. A especiaria é o terceiro produto da pauta de exportações do agronegócio capixaba. De janeiro a julho deste ano, o Estado foi responsável por 58% de toda a pimenta-do-reino exportada pelo Brasil.