Em entrevista ao Estadão, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), ressaltou a necessidade de pragmatismo e ajuste fiscal como ferramentas cruciais para o sucesso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Casagrande, que governa o estado pela terceira vez, defendeu que a administração pública deve focar em resultados efetivos e na busca por equilíbrio das contas públicas, uma abordagem que considera essencial para reconquistar aliados e obter avanços econômicos.
Ele afirmou que Lula deve concentrar esforços na agenda econômica e não em pautas ideológicas, como a tributação de grandes fortunas.
“Lula não precisa de uma agenda de esquerda. O presidente tem que focar na agenda econômica e nas necessidades do governo, compreendendo que esta é a realidade agora e que será a realidade daqui para frente. Não tem que levar para o Congresso Nacional nenhum debate que possa fortalecer posições ideológicas. Agora é a necessidade do pragmatismo do ato de governar”, disse o governador.
Para o governador, é fundamental que Lula reconquiste aliados focando na gestão econômica e aproximando-se de setores mais conservadores, cada vez mais influentes no cenário político. Casagrande acredita que o pragmatismo é essencial no atual contexto. “Lula não precisa de uma agenda de esquerda. Tributação de grandes fortunas? Poderia ser um tema, mas não vai entrar. O presidente tem que ir conduzindo no dia a dia, focando na agenda econômica e nas necessidades do governo”, disse.
O Espírito Santo é reconhecido por sua responsabilidade fiscal. Casagrande destacou que a boa gestão financeira possibilitou ao estado obter uma nota A em gestão fiscal por 12 anos consecutivos, além de possuir a maior capacidade de investimento em infraestrutura do país. “O controle de despesas é fundamental. Buscar o equilíbrio das contas não é uma tarefa de um presidente ou de um governo de esquerda ou de direita, mas de qualquer um”, declarou.
Em relação às críticas de economistas que apoiaram Lula nas eleições, Casagrande reconheceu a complexidade do ambiente político atual, caracterizado por um Congresso conservador e um debate ideológico superficial. Ele mencionou que a percepção de falta de compromisso com o equilíbrio fiscal tem afastado alguns aliados do presidente. “Efetivamente, a impressão que passa do governo é que em alguns momentos não tem uma preocupação com a busca do equilíbrio fiscal”, disse.
Casagrande acredita que a coordenação interna do governo é crucial para enfrentar os desafios fiscais e econômicos. Ele elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua dedicação ao equilíbrio fiscal, mas destacou a necessidade de um alinhamento mais claro dentro do governo. “Minha avaliação é que o governo precisa se alinhar no discurso e na prática de busca permanente do equilíbrio fiscal para que isso seja um instrumento para que a gente tenha uma velocidade maior na redução das taxas de juros e um crescimento maior da economia”, afirmou.
O governador também comentou sobre a polarização política e suas implicações para a pauta econômica. Ele acredita que, embora haja dificuldades, o governo e o Congresso podem avançar em temas cruciais, como a reforma tributária. “Eu não acredito que vá ter uma barreira nessa votação, é mais uma organização do Congresso”, disse.
Casagrande avaliou que, apesar das dificuldades, o presidente Lula continua sendo uma figura respeitada e que precisa estabelecer pontes com segmentos da sociedade que atualmente têm menos identidade com sua atuação. “O que eu espero que ele faça é que ele busque politicamente estabelecer pontes de contatos com segmentos que hoje têm menos identidade com a sua atuação”, concluiu.
Por fim, Casagrande enfatizou a importância da aprovação da reforma tributária e afirmou que a complexidade da articulação política no Congresso é um desafio constante, exemplificado pela recente votação da “taxação das blusinhas”, que mostrou como os assuntos podem se transformar em debates políticos polarizados. “Houve uma polarização, com diferenças dentro e fora do governo. Bolsonaro a princípio anunciou o apoio, Lula era contra, e as coisas foram mudando. Então, isso mostrou que todos os assuntos acabam se transformando num debate político. Quando as lideranças desses polos políticos se posicionam começa a ter uma disputa dentro do Congresso. Isso não tem como a gente prever, a gente tem que ir administrando”, concluiu.