Na última década, a indústria capixaba, sobretudo a extrativa, foi afetada por uma série de acontecimentos, como o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, que afetaram a mineração, além da maturação dos poços de petróleo. Entretanto, o setor vem mostrando avanços nos anos mais recentes.
A participação da indústria na economia estadual voltou a crescer, alcançando 38,3% do Produto Interno Bruto (PIB) total de 2021 – o dado mais recente, considerando a defasagem de dois anos na divulgação dos resultados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior patamar desde 2014 (38,9%).
Em 2020, a participação da indústria no PIB capixaba era de 27,4%. Isto é, entre um ano e outro, saltou 10,9 pontos percentuais, levando o Espírito Santo à segunda posição entre os Estados com maior participação do setor na economia, perdendo apenas para o Pará (46,3%).
O crescimento é explicado, sobretudo, pelo aumento dos preços nas indústrias extrativas e do crescimento da produção e dos preços nas indústrias de transformação.
Apesar do encarecimento dos produtos, as indústrias extrativas recuaram no volume de produção, com queda de 10,1% ante o patamar observado em 2020, sob influência da queda na extração de petróleo e gás — perpetuada, nos últimos anos, pelo amadurecimento dos campos produtivos — e na pelotização de minério de ferro, prejudicada desde 2015, após o rompimento da barragem em Mariana (Minas Gerais), que levou à paralisação da Samarco — a empresa retomou as atividades no final de 2020, operando com capacidade reduzida.
O diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, pontua, entretanto, que o segmento vem se recuperando, apresentando resultados positivos nos últimos meses, com aumento na produção e dos preços, assim como ocorre com a indústria da transformação.
Lira destaca contribuições importantes para o bom resultado do nicho em questão:
“Ainda tem um peso da indústria extrativa (na economia do Estado), mas também estamos tendo avanços importantes na indústria da transformação: a gente tem investimentos da siderurgia, da indústria alimentícia, com fábricas de café, chocolates. Também temos desempenho positivo de indústrias de bens finais, como a produção de motores elétricos, micro-ônibus, fabricação de móveis, confecção, papel e celulose”, lista.
Isto é, a produção desenvolvida em território capixaba vai muito além da extração de matéria-prima, e, nos últimos anos, a industrialização dos bens finais tem contribuído ainda mais para a diversificação da economia. Com esse avanço da indústria de transformação, a atividade econômica do Estado fica mais dinâmica e com produção de itens de maior valor agregado.
Ainda houve ganhos na construção (13,1%), tanto pela implementação de novos condomínios quanto por grandes projetos, a exemplo das obras de mobilidade urbana. Em menor proporção, o segmento de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação (1,8%) também teve resultado positivo.
Apesar da defasagem de dois anos na divulgação dos dados do PIB, a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do IBGE, permite ter um vislumbre do cenário atual.
Conforme os dados compilados pelo Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em setembro, por exemplo, a produção industrial capixaba recuou 4,8% em relação ao mês anterior. Na comparação com o mesmo período de 2022, porém, o avanço foi de 14,2%, superando, em muito, a média nacional (0,6%). O bom desempenho interanual foi impulsionado, sobretudo, pela indústria extrativa, com a produção de petróleo e gás natural e de pelotas de minério de ferro.
“Estamos acompanhando ao longo deste ano os bons resultados da indústria de petróleo e gás capixaba. Tivemos a retomada do FPSO Cidade de Anchieta, que aumentou a produção em mar. Além disso, o Plano de Desinvestimento da Petrobras e os estímulos regulatórios da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) contribuíram para a diversificação de empresas atuantes no Espírito Santo, o que também resultou na recuperação da produção”, explica a presidente da Findes, Cris Samorini.
No acumulado do ano, até setembro, o resultado da indústria capixaba também foi positivo. O crescimento nos primeiros nove meses de 2023 chegou a 7,6%, sendo o segundo maior crescimento no país, atrás apenas do Rio Grande do Norte (17,1%). Em um ano, a indústria capixaba avançou 1,2% em um ano. Assim, apesar da desaceleração no mês de setembro, o cenário geral é positivo.
Agora, o diretor-presidente do IJSN, Pablo Lira, avalia que a tendência, até o final de 2023, é de crescimento da indústria como um todo, com a continuidade de investimentos também nos ramos da siderurgia, papel e celulose, entre outros nichos. “E a expectativa para o próximo ano é que a indústria capixaba continue crescendo.”