A medalha de ouro na estante, a fotografia de uma bela defesa pendurada na parede, o livro de Marcelo Baêta recontando “O Ano do Galo” e a lembrança dos mais de 48 mil torcedores pagantes no Maracanã mantêm intactas as memórias do ex-goleiro e ídolo do Atlético-MG, Renato Valle, da época em que o clube conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro oficial, em 1971.
A boa fase da equipe mineira e a coletividade do grupo, nas palavras do ex-futebolista, levaram o clube a ser dono do campeonato inédito naquela ocasião, conquistado contra o Botafogo. Semelhanças que podem ser notadas na atual fase do Galo, que tem grande chance de também fazer parte de uma história centenária com o título da Libertadores em 2013.
– Meu grupo de 1971 era muito unido, tivemos um bom comandante fora do campo, o Telê, e dentro de campo, Oldair, e atletas muito experientes. Este momento é o mais importante do Atlético-MG. Com a experiência que o time está e a união do grupo, que é impressionante, ele tem tudo pra vencer, para ser campeão – comentou.
O reconhecimento dos torcedores e as várias homenagens feitas por eles, que inclusive são guardadas com carinho no acervo pessoal, fazem de Renato Valle um dos queridinhos eternos do “Galo Forte e Vingador”. Agora, aos 68 anos de idade, ele vive a sensação de presenciar mais um possível título histórico. Como espectador e torcedor de coração, ele confessou estar com a mesma emoção de quando atuava. A tensão para acompanhar a finalíssima da Libertadores é tão visível que ele dispensou a presença de amigos ou a possibilidade de assistir ao jogo no estádio. O ritual é ver as partidas sozinho em casa e de uma forma bem original.
– Não quero ninguém palpitando na minha orelha. Vou sentar na minha cadeira, ligar a televisão sem som, colocar o notebook do lado e ouvir música enquanto assisto ao jogo. Contra o Tijuana, eu comecei a sentir o coração bater forte, fiquei tenso, principalmente no finalzinho. Então, comecei a optar por esse estilo. Fico mais relaxado e consigo concentrar – disse.
Ao sucessor de geração, Victor – carinhosamente chamado pela torcida de “São Victor”, em virtude das defesas decisivas feitas nos últimos jogos da competição – o ex-atleta aproveitou para transmitir um conselho em especial e, também, ao elenco.
– O Victor vem mostrando que é muito importante e tem que achar que sempre pode fazer mais, estando confiante e aproveitando essa fase que está. Até porque o goleiro vai de herói a vilão num piscar de olhos. Mas é claro que o grupo todo é importantíssimo, futebol é coletividade e, neste primeiro jogo no Paraguai, o grupo tem que ficar atendo à arbitragem, mas sem se importar e criar caso, porque eles têm que lembrar que o juiz fala a mesma língua deles – ressaltou.
Descontraído, Renato aproveitou para não perder a piada.
– O Atlético-MG tem condições de fazer um grande jogo e vir com um resultado confortável. Se fosse no horto ‘tava’ morto, mas, como vai ser no Mineirão, é campeão [risos] – acrescentou.
Memórias eternizadas
Painéis de fotos, troféus, medalhas e muitas homenagens estão por toda parte no apartamento de Renato em Uberlândia, onde reside há 15 anos. Com passagens também pelos cariocas Flamengo e Fluminense e Seleção Brasileira, somando sete títulos de campeão, foi pelo Clube Atlético Mineiro que ele tornou-se um fiel torcedor a partir do momento em que se despediu dos gramados.
O gostinho de fazer parte da história atleticana e ter sido privilegiado com o Brasileirão deixa quatro décadas atrás sempre muito presentes para o ex-futebolista brasileiro.
– Lembro quando entrei no Maracanã e vi aquela torcida do Galo marcando presença em um jogo de estádio dividido, eu não esperava de forma alguma. Jogávamos pelo empate, mas o Botafogo marcava para frente, era um time desesperado pelo resultado. Fiz defesas importantes, principalmente no jogo anterior, contra o São Paulo. Mas foi a bola certa, no momento exato, cabeceada na área por Dário, que fez o gol, e depois foi só festa – relembrou Renato.
Até hoje, o grande goleiro de 1971 é lembrado pelos torcedores. Já recebeu mensagens de torcedores de Uberlândia, Uberaba e outras cidades da região, um DVD com os melhores momentos de sua carreira, além de um futebol de botão completo com todos os elencos nos quais fez parte.
– Não há nada melhor do que esse carinho da torcida. Eu sempre falo que a vaia da nossa própria torcida é igual a mãe zangada, igual mãe brigando com a gente. Então ter esse apoio deles é fundamental – garantiu.
Fonte: Globoesporte.com