‘Miami Herald’ diz que espionagem continuará porque Brasil não é ‘amigo’.
O discurso da presidente Dilma Rousseff na Assembleia-Geral das Nações Unidas e a entrevista dada por ela nesta quarta-feira (25) foram avaliados por colunistas de jornais norte-americanos com um sinal de que o Brasil se afastará dos Estados Unidos para se aproximar ainda mais de países como China, Índia e Rússia.
O distanciamento diplomático causa preocupação aos EUA porque poderá reforçar as políticas de nações que tradicionalmente discordam do governo norte-americano em decisões de âmbito internacional.
O site da “Time Magazine”, revista norte-americana, traz artigo em que afirma que a posição de Dilma de acusar os EUA na ONU de ferir o Direito Internacional e a soberania dos países com as ações de espionagem deverá reforçar os Brics, grupo formado pelas maiores economias emergentes – Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul.
O artigo cita como fonte especialistas em política externa e ex-embaixadores do Brasil em Washington, como Rubens Ricupero. De acordo com a publicação, essa aproximação do país com nações que adotam políticas econômicas e internacionais conflitantes com a do governo norte-americano reforça a “impressão de que Brasil e EUA possuem uma relação instável” e que há vários “buracos no caminho” para uma futura aproximação.
Já o jornal “Miami Herald” publicou artigo nesta quarta (26) em que um ex-embaixador norte-americano que não quis se identificar afirma que os Estados Unidos certamente continuarão a espionar o Brasil. O artigo traz explicações do diplomata para os motivos que levaram o governo norte-americano a adotar políticas invasivas de inteligência no Brasil.
De acordo com ele, Washington não considera que o Brasil seja, “exatamente um país amigo”. Ele exemplifica dizendo que o governo brasileiro, desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, se aliou com nações inimigas dos Estados Unidos, como a Venezuela chavista, o Irã, a Líbia (na ditadura de Muhamar Khadaffi), Cuba, e a Bolívia de Evo Morales. Alem disso, o Brasil costuma concordar com as posições da Rússia e da China nas discussões sobre conflitos internacionais, sobretudo ao defender a não-intervenção militar na Síria.
O jornal afirma ainda que os Estados Unidos jamais trabalharão para que o Brasil ocupe um assento permanente nas Nações Unidas, conforme pleiteado pelo governo brasileiro. “Já temos dois adversários permanentes: Rússia e China. Não precisamos de um terceiro”, disse o embaixador ouvido pela publicação.
Já a agência de notícias Reuters destaca que as relações entre EUA e Brasil estavam progredindo no governo Dilma, mas os avanços foram interrompidos após a denúncia de espionagem. Para a agência, o cancelamento da visita que Dilma faria a Washington em outubro e o tom duro do discurso da presidente da ONU podem prejudicar a cooperação na área econômica entre os dois países, “em um momento em que a influência internacional da China cresce.
Já o britânico “The Guardian”, que publicou as primeiras denúncias de espionagem dos Estados Unidos, afirma que o “furioso”discurso de Dilma representa a maior crise diplomática entre EUA e Brasil desde as revelações das ações da NSA, agência de segurança norte-americana.
Fonte: G1.globo.com