Depois de circular por mais de 20 anos no mundo, a gripe aviária H5N1 teve o 1º caso registrado no Brasil no dia 15 de maio. Até agora, 13 aves de espécies migratórias e silvestres (que vivem na natureza) foram infectadas.
O foco, neste momento, é evitar que o H5N1 chegue aos aviários do Brasil, que é o principal exportador de carne de frango do mundo, e segundo maior produtor global, atrás dos EUA.
A doença se espalha rapidamente entre os pássaros: de 2005 a 2023, 448 milhões de aves foram abatidas, e 31 milhões morreram por gripe aviária, em países da África, Ásia e Pacífico, Américas, Europa e Oriente Médio, diz a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).
O que é e onde surgiu a H5N1?
O H5N1 é um subtipo do vírus Influenza que atinge, predominantemente, as aves.
Os vírus Influenza são divididos entre os de Baixa Patogenicidade (LPAI, leve) e os de Alta Patogenicidade (HPAI, grave).
O H5N1 faz parte do segundo grupo: isso significa que ele é disseminado rapidamente entre as aves e tem um alto índice de mortalidade entre os animais.
A Influenza Aviária foi diagnosticada pela primeira vez em aves em 1878, na Itália. Mas H5N1 só foi isolado por cientistas mais de 100 anos depois, em 1996, em gansos na província de Guangdong, no sul da China.
No ano seguinte, ocorreu o primeiro registro da doença em humanos, em Hong Kong, segundo um documento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Humanos podem pegar gripe aviária?
Sim. Os casos são raros, mas a taxa de mortalidade é alta: por volta de 52%.
De 2003 a abril de 2023, apenas 874 pessoas foram infectadas com H5N1 no mundo. Apesar disso, metade delas (458) morreu.
O dado é da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nas Américas, só há registros de 3 pessoas infectadas até o momento:
- o primeiro nos Estados Unidos, em abril de 2022;
- o segundo no Equador, em janeiro de 2023;
- e o terceiro no Chile, em março de 2023.
Os infectados nos EUA e Equador se recuperaram, mas não há detalhamento do caso do Chile. Os dados são de um relatório do dia 17 de maio, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Nos EUA, a contaminação ocorreu em um homem que trabalhava no abate de aves em uma granja, no Colorado, onde o H5N1 foi detectado em animais.
Já no Equador, a doença foi identificada em uma menina de 9 anos, habitante de uma área rural da província de Bolívar, que estava em contato com aves de quintal, que morreram sem causa aparente.
Há pessoas infectadas no Brasil?
Não. Até o momento, os casos suspeitos foram descartados, diz o Ministério da Saúde.
Ao todo, 42 pessoas tiveram contato com aves doentes no Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Deste total, 38 testaram negativo para H5N1, e outras quatro amostras estão em análise.
Como uma pessoa se contamina?
Quando tem contato direto com as secreções e fluídos de um animal infectado, esteja ele vivo ou morto. Isso porque as aves eliminam o vírus da Influenza por meio das fezes e secreções respiratórias.
É por isso que não se deve tocar e nem recolher aves doentes, afirma o Ministério da Agricultura.
A doença pode ser transmitida ainda por água e objetos contaminados com essas secreções, acrescenta a OMS.
O Departamento de Agricultura dos EUA tem observado que as infecções humanas ocorrem, geralmente, após exposições desprotegidas a aves: sem uso de proteção respiratória ou ocular.
Posso pegar H5N1 comendo carne?
Não. Até o momento, não há registros de contaminação de gripe aviária a partir do consumo de frango ou ovos devidamente preparados, afirmam o Ministério da Agricultura e Organização Mundial de Saúde (OMS).
Humano passa para humano?
Não. Até agora, nenhuma transmissão de gripe aviária de humano para humano foi relatada nas Américas ou globalmente, aponta a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Quem corre mais risco?
As pessoas expostas a aves infectadas. Exemplos: criadores de aves e pessoas envolvidas no controle de surtos.
Segundo a OPAS, os profissionais da saúde também têm risco de infecção se não seguirem medidas adequadas de prevenção e controle.
Há vacinas para humanos?
Ainda não. Desde janeiro, o Instituto Butantan está desenvolvendo uma vacina para humanos contra a gripe aviária.
Segundo o instituto, os testes estão sendo realizados com cepas vacinais que foram cedidas pela OMS e o primeiro lote já está pronto para o início dos testes pré-clínicos, ou seja, testes em laboratório.
“A OMS recomenda que profissionais do setor de granjas recebam a vacina da influenza, a fim de prevenir uma mutação viral que favoreça a transmissão entre humanos […] a vacina sazonal disponível vai auxiliar na diminuição de possibilidade de mutações”, diz a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Einstein.
Há vacinas para aves?
Sim, mas elas não são 100% eficazes e ainda estão sendo estudadas, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
“A vacina para aves traz consigo um outro problema: os países importadores não aceitam porque, dessa forma, não conseguem saber se o vírus que está na ave é o vírus da vacina ou da doença”, destaca.
Segundo a Embrapa, a vacinação das aves tem sido utilizada em países da Ásia, como a China. Contudo, ela ainda não foi capaz de conter totalmente o H5N1, e focos da doença continuam sendo relatados na região.
Quantas aves foram contaminadas no Brasil?
Até o momento, 13 aves foram contaminadas. Os primeiros casos ocorreram no dia 15 de maio. Nenhum animal voltado para o consumo humano foi atingido. Os pássaros infectados foram:
- 8 Trinta-réis-de-bando (espécie Thalasseus acuflavidus): migratórios e marinhos. Cinco foram encontrados no Espírito Santo, e três no Rio de Janeiro;
- 1 Trinta-réis-boreal (espécie Sterna hirundo), encontrado no ES;
- 1 Trinta-réis-real (espécie Thalasseus maximus): silvestre e migratório, encontrado no ES;
- 1 Atobá-pardo (espécie Sula leucogaster): marinho e migratório, encontrado no ES;
- 1 Corujinha-do-mato (espécie Megascops choliba), encontrado no ES;
- 1 Cisne-de-pescoço-preto (espécie Cygnus melancoryphus), encontrado no RS.
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